Eu sou uma pessoa que não costumo andar de ônibus, sempre dei preferência a andar de bicicleta, carro, trem, moto ou a pé, porém ultimamente tenho usado muito o trem, esse “muito” seria diariamente para ir ao serviço, voltar para casa, ir para a faculdade e retornar para casa novamente.
Nessa minha verdadeira viagem diária tenho observado uma modalidade que vem crescendo a cada dia de diversas formas e lugares, mas em especial no trem.
Dado o tamanho crescimento, em minha opinião essa área merece uma maior atenção por grupos de especialistas, pois vem demonstrando um promissor mercado em acessão.
Outro dia, vindo ao trabalho, logo de manhã com o trem lotado havia um deficiente visual esmolando, logo pensei comigo: horário de pico o trem extremamente lotado e justamente agora esse rapaz resolve pedir esmola? Porque justamente agora e não mais tarde?
A resposta não tardou, ao voltar para casa à tarde que é um período de menor movimento deparei com uma cena que me deixou estarrecido a cada estação entra um pedinte seja ele deficiente visual, cadeirante, andarilho, imigrantes, desempregados etc.
Deste dia em diante passei a observar esse tipo de ação com maior atenção e verifiquei que cada um tem seu script, desde do mais simples aos mais arrojados, seus lugares estratégicos, artifícios de media, apelos emocionais e muita criatividade dentre eles alguns me chamaram a atenção:
Houve um tempo em que era simplesmente andar pelo vagão com a mão estendida, hoje esse comportamento já não tem o mesmo resultado, veja alguns exemplos que realmente chamaram minha atenção.
Um dos mais interessantes e surpreendentes que vi foi em um ônibus, eu nem sabia que havia essa prática em ônibus também.
Um rapaz junto com uma criança entra no coletivo, pede autorização ao motorista e ao cobrador e faz o seguinte discurso:
Senhoras e senhores estou aqui humildemente pedindo a colaboração de vocês, pois acabou meu gás, estou desempregado e moro na zona leste (OBS: eu estava em Carapicuíba), no ônibus ele recebeu doações de no mínimo 20 pessoas, se realmente é verdade que ele morava na zona leste e veio fazendo isso em diversos ônibus, com certeza ele já tinha dinheiro suficiente para comprar um botijão cheio mais um fogão! Mas o foco nesse artigo não é matemático e sim puramente marketing.
Outro caso interessante ocorrido no trem foi uma senhora alegando câncer, desemprego etc., aos prantos e se desmanchando em lágrimas implorava pelo amor de Deus qualquer ajuda por coincidência ela desceu na mesma estação que eu, e ficamos sentados no mesmo banco, o irônico é que no exato momento que ela saiu do vagão, as lágrimas sumiram, a respiração normalizou e ela calmamente contava o dinheiro recebido.
Para que não se torne uma leitura cansativa citarei apenas algumas partes de alguns casos.
Já presenciei: “Pode me dar uma ajuda, pois preciso fazer uma entrevista e estou sem dinheiro para passagem”, “Alguém pode me ajudar, pois acabei de sair da cadeia por assassinato matei o estrupador da minha filha”, “Me ajudem, pois fui despejado hoje”, “Tenho meningite, labirintite, pneumonia, derrame” e o interessante é que saiu reclamando que só tinha pão duro no vagão'” e por ai vai.
Fora os slogans: “Melhor pedir de que roubar” “Poderia ser você”, “Uma quantia que não lhe fará falta”,” Qualquer coisa serve”, “Aceito vale transporte/refeição” e etc.
Venhamos e convenhamos é ou não é um mercado promissor, imaginem um analista fazendo seu trabalho ele diria:
Fale em alto e bom tom, não fale apenas nas extremidades do vagão, olhe no olho de cada um na hora de pedir, use vestes adequadas, envolva o público com histórias, use o sentimento.
Pense bem sobre esse assunto, a evolução foi tanta que os famosos “marreteiros” tiveram que rebolar para combater essa concorrência desleal, diversificaram os produtos fazem teatrinho do tipo “Entra dois vendedores um em cada ponta do vagão passam vendendo a mercadoria por exemplo a 3,00 duas por 5,00 em seguida um vendedor diz
OLHA O RAPA!!!(segurança) ta no outro vagão, vamos ter que queimar a mercadoria!(Vender mais barato)” então começam a vender a R$1,00 ,entre outros.
Achei legal compartilhar essas experiências mesmo sendo engraçado, não deixa de ser trágico.
(Adailton G. Ferreira 2007 Revisão Rosana Yamauchi)